quarta-feira, 17 de maio de 2017

A azinheira de Fátima e o Rosário



"É sobre uma "Quercus ilex", comummente denominada azinheira, que a Virgem Maria aparece, em 1917, aos pastorinhos de Fátima. O carvalho, que como a azinheira é uma espécie do género "quercus", era para os gregos a árvore sagrada de Júpiter. Por causa da sua longevidade e robustez, foi considerada desde sempre parábola da eternidade. Ao contrário, a azinheira associou-se à desventura: as suas copas sombrias com as ramagens sempre verdes tornavam os bosques impenetráveis, e daí a reputação de planta infausta.

Não foi assim para o cristianismo, que, ao contrário, concede à azinheira um papel sem precedentes. Conta-se como, após a condenação à morte de Cristo, todas as árvores se recusaram oferecer a sua madeira para fabricar a cruz. Sob os golpes dos lenhadores e marceneiros cada pedaço de madeira desfazia-se em bocados. Só a azinheira não se rebelou porque compreendeu que Cristo, com a cruz, redimiria o mundo e salvaria também a criação da caducidade da morte. Não foi por acaso que o Beato Egídio, terceiro companheiro de S. Francisco de Assis, via aparecer o Salvador junto a uma azinheira, símbolo, precisamente, do crucifixo.

 Desta maneira compreende-se melhor porque é que a Virgem Maria aparece aos três pastorinhos de Fátima sobre uma azinheira.

O anúncio da Senhora situa-se dentro da grande obra de salvação que Cristo já cumpre inteiramente na cruz, mas que deve atuar na história através do corpo místico da Igreja. Apesar da homonímia entre a Fátima portuguesa e a única filha de Maomé, os símbolos de que se rodeia a Virgem durante a aparição designam-na claramente como uma aparição cristã. Entre as árvores citadas pelo Corão, com efeito, não se encontra elencada nem a azinheira nem o mais genérico carvalho, enquanto que são numerosas as obras de arte que retratam Maria sobre ou junto àquela árvore. Entre as mais famosas está a Sagrada Família junto do carvalho, obra de Rafael em que S. José, pensativo, se apoia sobre as ruínas de um templo pagão, e a Senhora se senta diante de um carvalho, com S. João Batista, então criança, que apresenta a Jesus a faixa "eis o Cordeiro de Deus", indicando assim o destino que haveria de abraçar o Messias.

 Mas a imagem mais sugestiva que liga, com grande antecipação, as aparições de Fátima à arte é a "Senhora da árvore seca", obra de Petrus Christus, artista holandês do século XV. Nela Maria surge sobre uma árvore de espinhos, evocando a coroação aquando da crucificação, tendo nos braços o Cristo Menino já revestido com a veste branca da ressurreição. Jesus apresenta à Mãe o fruto da sua paixão, que reabrirá à humanidade o jardim onde se enraíza a árvore da vida.

 Na imagem observam-se 15 letras suspensas dos ramos secos da árvore, referência às 150 Avé-Marias que compõem o Rosário. A difusão do Rosário na Europa data de 1475, enquanto que a pintura de Petrus Christus é de 1465. Com 10 anos de antecipação o artista propõe aos fiéis essa arma de salvação que também a Virgem, em Fátima, cinco séculos mais tarde, indicará como instrumento para vencer o drama da descristianização do mundo contemporâneo."

Texto retirado de: Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (http://snpcultura.org/a_azinheira_de_fatima_e_o_rosario.html), em 17/1/2017

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