sábado, 28 de março de 2009

Flor da paixão - Caramuru

Nem tu me esquecerás, flor admirada,
Em quem não sei, se a graça, se a natura
Fez da Paixão do Redentor Sagrada
Uma formosa, e natural pintura:
Pende com pomos mil sobre a latada,
Áureos na cor, redondos na figura,
O âmago fresco, doce, e rubicundo,
Que o sangue indica, que salvara o Mundo.
XXXVIII
Com densa cópia a folha se derrama,
Que muito à vulgar Era é parecida,
Entrefechando pela verde rama
Mil quadros da Paixão do Autor da vida:
Milagre natural, que a mente chama
Com impulsos da graça, que a convida,
A pintar sobre a flor aos nossos olhos
A Cruz de Cristo, as Chagas, e os abrolhos.
XXXIX
É na forma redonda, qual diadema
De pontas, como espinhos, rodeada,
A coluna no meio, e um claro emblema
Das Chagas santas, e da Cruz sagrada:
Vêem-se os três cravos, e na parte extrema
Com arte a cruel lança figurada,
A cor é branca, mas de um roxo exangue,
Salpicada recorda o pio sangue.
XL
Prodígio raro, estranha maravilha,
Com que tanto mistério se retrata!
Onde em meio das trevas a fé brilha,
Que tanto desconhece a Gente ingrata:
Assim do lado seu nascendo filha
A humana espécie, Deus piedoso trata,
E faz que quando a Graça em si despreza,
Lhe pregue co’esta flor a natureza."

CARAMURU: POEMA ÉPICO
Frei Sta. Rita Durão © VirtualBooks 2002
http://virtualbooks.terra.com.br/freebook/port/caramuru_poema_epico.htm

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