AS ERMIDAS
Alvas ermidinhas sob azuis magoados,
Vejo-vos de longe numa adoração,
Como ninhos brancos de Ideal pousados
Lá nesses fragosos montes escalvados,
Onde não há água, nem germina o pão.
Pelas torvas, fundas noites de invernada,
Quando os lobos uivam, quando a neve cai,
Que infinitos sustos numa tal morada,
Para débil virgem tão desamparada
Com um inocente nos seus braços... ai!
Como é que não treme pelo seu menino?
Como é que não chora seu piedoso olhar?
Como é que o seu lábio, fresco e matutino,
Se abre num sorriso, precursor divino
Da estrelinha d’alva quando vai raiar?!
Não receia feras quem de rosto ledo
Sofre sete espadas sobre o coração!...
E ao filhinho a noite não lhe causa medo,
Deu-lhe Deus o mundo para seu brinquedo,
Como um fruto de ouro tem-no ali na mão!...
Lá nos altos montes sem trigais, nem vinhas,
Sem o bafo impuro que dos homens vem,
É que a Mãe de Cristo com as andorinhas,
E as estrelas de ouro mesmo ali vizinhas,
Num casebre térreo se acomoda bem!
E nas brutas, rudes solidões tão calmas
Ai, muito se engana quem a julga só!
Entre o luar dos hinos e o verdor das palmas,
Para lá caminham romarias de almas...
Todos nós lá fomos com a nossa avó!...
...
Guerra Junqueiro. Do livro: “Os Simples”
Imagem da Internet
domingo, 24 de outubro de 2010
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"Não receia feras quem de rosto ledo
ResponderExcluirSofre sete espadas sobre o coração!..."
Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco."
Bonito poema que não conhecia.
Bjins
Que lindo, que lindo este poema!
ResponderExcluirEu não conhecia, mas gostei tanto que copiei para meu arquivo pessoal...
Viva Nossa Senhora, nossa Mãe e Mãe de Deus!...
Beijinhos
CONHEÇO O POEMA, LINDÍSSIMO, Que dava aos alunos do 11ºANO...O amor ao v´divino e a VENERANDA IMAGEM DE MARIA, foram uma contante na ogggbra de JUNQUEIRO.
ResponderExcluirBEIJINHO
Mª ELISA
Um grande escritor... e um grande poema.
ResponderExcluirBeijos, querida amiga.