sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Sois de graça cheia


Virgem soberana,
De outros cantos dina:
Falta a voz humana,
Cante a voz divina.

Estrelas e flores,
Areias do mar
Podem-se contar,
Não vossos louvores.

De tal maravilha
Não me maravilho,
Pois sois mãe e filha
De Deus, vosso Filho.

Sois templo divino
Do Espírito Santo:
Quem é Só e Trino
A vós só quis tanto.

Sois cedro em Líbano,
Em Cádis sois palma,
Remédio do dano,
Vida da nossa alma.

Sois jardim cheiroso,
Plátano em ribeira;
Em campo formoso,
Formosa oliveira.

Sois esquadrão forte,
Torre em alto erguida,
Escudo da morte,
Doçura da vida.

Entre espinhos rosa,
Lírio junto de água;
Toda sois formosa,
Em vós não há mágoa.

Fostes escolhida
Por nossa desculpa,
Sem culpa nascida,
Remédio da culpa.

Quanto Eva perdeu
Por vós se cobrou,
Quem de vós nasceu
Tal vos fabricou.

O Verbo nascido
Deu-vos por Mãe sua,
O Sol por vestido,
Por chapins a Lua.

Deu-vos a Trindade
Coroa de estrelas;
Mas a claridade,
Vós lha dais a elas.

Sois fonte suave,
Alívio de tristes;
Sois do Céu a chave,
Vós o Céu abristes!

Quanto o Sol rodeia,
Quanto o Mar abraça,
Tudo encheis de graça,
Sois de graça cheia.


Diogo Bernardes (1530-1595)
Imagem da Internet 

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