sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Nossa Senhora dos Tristes

Minha amiga Valéria Aureo, enviou-me este texto, de sua autoria (dez/08), que publico hoje neste espaço:

"Nossa Senhora dos Tristes

São Francisco de Assis em suas andanças pastoris, levou-me a escrever este madrigal sacro:
Encontrei Nossa Senhora na beira do rio, lavando os paninhos do seu Bento filho.
A Senhora cantava baixinho e a dor escorria junto com a água turva da tina.
Não tinha letra a canção, só plangente melodia, que Maria sussurrava.
São José assoviava acompanhando a sinfonia; Maria murmurava e o menino ouvia.
Água vai, água vem cristalina das terras de Belém, lavando os pés do pastor... Nasceu Nosso Senhor!
Eu olhava a espuma branca que no arroio fluía.
O manto azul da Virgem a pele alva encobria, a veste branca de luz adornava a escuridão.
No céu brilhava a estrela guia...
O anjo Gabriel vigiava a Sagrada família, o carneirinho repousava no chão, ao pequeno a lã cedia.
Maria devia saber: nunca antes do tempo...
Eu via a água verter enquanto o menino dormia: corria a água no rosto, a dos olhos de Maria...
O pai entalhava um tronco; a mãe entoava um canto.
Num canto o pequeno dormia.
A cantiga era tão triste, a que o vento trazia, enquanto Maria batia a roupa na ribeirinha.
A Senhora lavava e São José estendia o pouco de pano que havia...
Senhora da Humildade! Bem sei que ela me ouvia!
A água benta escorria, refrigério em minha mão...
Virgem da Consolação!
O vento forte secava a manta surrada e fina, o sol aquecia a estrada e o jumentinho pastava na relva luzidia. E o menino sonhava, e o menino comia.
Ele inocente do encargo, do fado que trazia.
Por certo se abstinha de ocupar a mãe aflita; doída de presságios... Sofrimento...
Maria devia saber: nunca antes do tempo...
Nossa Senhora das Lágrimas!
Virgem da Abadia!
Lava meu coração!
Depois de ajudar Maria, São José buscava gravetos, para acender a fogueira, temendo uma noite fria. Cobria de palha o berço, para aquecer a criança, porque o que lhe restava era cuidar da vida.
Não tinha outra lembrança, senão a fuga do Egito, para salvar o Bento filho...
O carpinteiro nem tinha madeira para acolher o Sagrado Jesus.
A Sagrada família se abrigava no Presépio, morada das criaturas...
Tão efêmera tarde que a agonia encobria o que estava por vir.
Nossa Senhora da Esperança acaricia os anéis dos cachos da criança e sente a coroa de espinhos!
Nossa Senhora das Chagas!
Nossa Senhora do Livramento!
Maria devia saber: nunca antes do tempo...
Nossa Senhora bordava... Nossa Senhora cosia...
Bordava estrelas na noite enquanto ninava o menino na humilde estrebaria.
Mãe intemerata enquanto trabalha, vigia...
A jovem mãe confiava mudar o destino atroz:: quase sem voz pedia:
- Senhor, ele é apenas um menino!
E Deus respondia:
- A humanidade o algoz! Maria!... Devia saber: nunca antes do tempo...
Mas ela já sabe da cruz!
Sim, a pobre mãe já sabia... Nossa Senhora das Dores! O calvário antevia...
Vi três Reis Magos com presentes confiados a Maria. Incenso, mirra, ouro que a jovem recebeu na lapa escura.
E não tinha onde guardar, nem sabia a serventia.
E tudo trocaria pela certeza de paz e da vida do filho.
São Francisco era o pastor que mansamente conduzia os bichinhos: o carneirinho balia, o boi e a vaca mugiam e o cachorro latia.
Ele ordenava, com aptidão e bondade e os bichos se calavam, para não assustar o menino.
E os animais viviam para servir de agasalho e companhia.
A cigarra ciciava, o grilo guizalhava, o beija-flor trissava e o menino balbuciava e ria....
Como toda mãe, lá ia Nossa Senhora cozendo, limpando o mundo.
E o menino crescendo...
Lá ia Jesus Cristinho, brincando pelo caminho, colecionando pedrinhas, como qualquer garotinho...
Ia o pai, ia também a mãe e o pacato jumentinho.
Lá ia correndo livre e perseguindo os cabritinhos...
Mas, tudo é muito igual para toda criança na infância.
Calma, Maria... Nunca antes do tempo...
Eu vi o dia chegar, mais claro que os outros dias...
A Senhora ao acordar, rezava a Deus e pedia:
- Senhor, ele é apenas um menino!
Saía a colher florezinhas pra enfeitar o caminho, por onde iria passar o Sagrado Jesus.
Tentava suavizar as feridas, o coração alanceado e o peso da cruz, que no futuro viriam.
Encontrei com Nossa Senhora, na beira do rio.
Via que andava apressada a procurar o menino, que distraído corria e que inocente crescia.
E só sua mãe já sabia.
Água vai, água vem cristalina das terras de Belém, lavando os pés do pastor...
Jesus Cristo, o Salvador!
Maria, agora é o tempo; o tempo da sua dor...

Nossa Senhora dos Tristes... A que sempre me sorria, consola em mim sua agonia!"

5 comentários:

  1. Lindíssimo texto!

    E o Menino crescia em Estatura em Sabedoria e em Graça...

    Bjinhos

    ResponderExcluir
  2. lindo texto, numa oração triste... e nossa senhora há-de sempre sorrir!
    beijinhos

    ResponderExcluir
  3. MARIA LÚCIA: que texto mais lindo! Mas se pensarmos bem, há uma NOSSA SENHORA para todas as aflições do ser humano!
    Beijito de Lusibero

    ResponderExcluir
  4. Muito bonito, querida amiga.
    Bom resto de semana para vc.
    Beijos.

    ResponderExcluir
  5. Eu só posso lhe agradecer por fazer figurar a minha oração "Nossa Senhora dos Tristes" neste seu lindo blog. Entre tantos nomes para a Santíssima Mãe do Menino Jesus, eis aquela que vigia o Deus pequenino.Aquela que compreende as antecipações e as angústias do coração materno. Eu humildemente peço a Ela que nos abençoe, nos ilumine e cubra nossos lares de graças.
    Muito obrigada, querida amiga
    Valéria Áureo

    ResponderExcluir